sábado, 16 de fevereiro de 2013

Epidemias da Contemporaneidade




"Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe."
                                                             - Oscar Wilde                  


      É inegável que o ser humano é um eterno insatisfeito. As pessoas, em sua maioria, não se contentam com o que são e o que têm. É importante e louvável buscar sempre um aprimoramento pessoal, posto que em nada se evolui enquanto escravo do conformismo. Todavia, deveríamos respeitar nossos próprios limites, bem como os que a vida em conjunto nos impõe, reconhecendo a impossibilidade de se atingir a perfeição – que está longe de ser uma característica humana, diga-se de passagem; mas o fato é que nem todos pensam desta forma.
      Não se trata meramente de uma concepção pessimista da realidade. Reconheço que o passar do tempo é acompanhado por avanços tecnológicos que visam a tornar nossa existência mais cômoda e duradoura, mas que também repercutem de forma negativa nas sociedades a que se destinam. O que vemos com cada vez mais frequência são pessoas frustradas, infelizes, que dependem de antidepressivos para esboçar um sorriso amarelo e que se rendem facilmente aos vícios, diante da falta de perspectivas favoráveis. Geram-se crianças ansiosas e adultos impacientes e intolerantes.
      Os bebês de hoje não vêm com cordão umbilical, vêm com cabo USB. A infância foi comprimida, a competitividade exacerbou-se de forma impiedosa e as altas expectativas depositadas sobre as futuras gerações fazem com que os pequenos se cansem de brincar mais cedo. E é uma injustiça grotesca atribuir a eles o encargo de consertar ou minimizar os erros frequentes que marcam a história da humanidade (dentre eles, a título de exemplo, a atual situação da grande maioria dos ecossistemas naturais, já intensa e irremediavelmente afetados pela ação antrópica). A infância dá lugar à malícia num piscar de olhos, e vislumbramos então adultos complexados e bestializados, que se relacionam de forma desleal e predatória entre si, quando o ideal difundido deveria ser, na verdade, o do império da harmonia.  A célebre frase “o mundo é uma selva” nunca fez tanto sentido!
      Instaurou-se uma ditadura da beleza extremamente cruel, na qual as balanças e os espelhos se tornaram nossos principais inimigos. Cultuam-se corpos inatingíveis através de métodos naturais, o que empurra as almas mais frágeis para o abismo dos transtornos alimentares, da insegurança e da baixa autoestima, tornando-as vítimas dos mais variados preconceitos (que constituem, a propósito, os reflexos mais torpes da ignorância humana desmedida).
      Outro fator relevante ao presente contexto, que determina inclusive o tratamento que se confere ao outro, é o número de dígitos de sua conta bancária. O dinheiro tornou-se uma força suprema que abre inúmeras portas e rege as mais variadas relações, desde as interpessoais às internacionais. Às vezes me parece que o mundo está girando ao contrário há algum tempo  e que ninguém se deu conta disso. Valores invertidos, princípios deturpados, ideais perdidos, liberdades inalcançáveis, dias melhores que nunca chegam.
      Não é necessário abdicar da tecnologia, do dinheiro, da beleza, dos bens materiais; entretanto, é importante que cada indivíduo busque um aprimoramento pautando-se pela sua própria consciência e por suas reais necessidades, colocando as expectativas e opiniões de outrem em segundo plano. Reprima-se menos, cobre-se apenas o necessário; permita-se mais, viva intensamente, por você e para você. Isso nos proporciona a tão almejada liberdade, em sua forma mais autêntica. E tenha sempre em mente que as coisas mais simples, aquelas que geralmente nos passam despercebidas, podem ser verdadeiras fontes de felicidade gratuita. Sim, falo por experiência própria, e espero que não se dê conta disso tarde demais.

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