quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

De Igual para Igual



"No caráter, na conduta, no estilo, em todas as coisas,
a simplicidade é a suprema virtude."
                                                            - Henry Wadsworth Longfellow




     A arrogância não é exclusividade de quem tem muito dinheiro, beleza, status e/ou inteligência. Muitos não têm nada disso e ainda assim se acham melhores do que seus semelhantes. E quase sempre esta se mostra uma característica de gente pequena, acostumada ao fracasso; de quem se esforça para transformar pequenos acertos em vitórias épicas. O que nem todos enxergam é que há muito charme e elegância na simplicidade. Quem é seguro de si não precisa exaltar seus êxitos. Em terra onde todos querem aparecer, quem é discreto atrai mais atenção.
      Ser gentil e bem educado, por exemplo, não custa nada; não se trata de um favor, mas de uma obrigação que a própria consciência impõe aos que não se sentem o centro do mundo, a quem não tem a idéia redondamente equivocada de que não precisa dos outros. Lidamos constantemente com pessoas, que merecem ser respeitadas em suas particularidades. Sua forma de tratá-las diz muito a seu respeito e pode trazer consequências, ainda que a longo prazo.
      Seja doce no seu cotidiano e perceberá que até um "bom dia" proferido sem entusiasmo por alguém ao seu redor pode deixar de ser um ato mecânico e se transformar em um sincero desejo, acompanhado do sorriso de uma pessoa que te considera admirável. E o valor disso é inestimável, acreditem. É isso que te faz cada vez melhor; não melhor do que os outros, mas melhor.






sábado, 16 de fevereiro de 2013

Epidemias da Contemporaneidade




"Viver é a coisa mais rara do mundo.
A maioria das pessoas apenas existe."
                                                             - Oscar Wilde                  


      É inegável que o ser humano é um eterno insatisfeito. As pessoas, em sua maioria, não se contentam com o que são e o que têm. É importante e louvável buscar sempre um aprimoramento pessoal, posto que em nada se evolui enquanto escravo do conformismo. Todavia, deveríamos respeitar nossos próprios limites, bem como os que a vida em conjunto nos impõe, reconhecendo a impossibilidade de se atingir a perfeição – que está longe de ser uma característica humana, diga-se de passagem; mas o fato é que nem todos pensam desta forma.
      Não se trata meramente de uma concepção pessimista da realidade. Reconheço que o passar do tempo é acompanhado por avanços tecnológicos que visam a tornar nossa existência mais cômoda e duradoura, mas que também repercutem de forma negativa nas sociedades a que se destinam. O que vemos com cada vez mais frequência são pessoas frustradas, infelizes, que dependem de antidepressivos para esboçar um sorriso amarelo e que se rendem facilmente aos vícios, diante da falta de perspectivas favoráveis. Geram-se crianças ansiosas e adultos impacientes e intolerantes.
      Os bebês de hoje não vêm com cordão umbilical, vêm com cabo USB. A infância foi comprimida, a competitividade exacerbou-se de forma impiedosa e as altas expectativas depositadas sobre as futuras gerações fazem com que os pequenos se cansem de brincar mais cedo. E é uma injustiça grotesca atribuir a eles o encargo de consertar ou minimizar os erros frequentes que marcam a história da humanidade (dentre eles, a título de exemplo, a atual situação da grande maioria dos ecossistemas naturais, já intensa e irremediavelmente afetados pela ação antrópica). A infância dá lugar à malícia num piscar de olhos, e vislumbramos então adultos complexados e bestializados, que se relacionam de forma desleal e predatória entre si, quando o ideal difundido deveria ser, na verdade, o do império da harmonia.  A célebre frase “o mundo é uma selva” nunca fez tanto sentido!
      Instaurou-se uma ditadura da beleza extremamente cruel, na qual as balanças e os espelhos se tornaram nossos principais inimigos. Cultuam-se corpos inatingíveis através de métodos naturais, o que empurra as almas mais frágeis para o abismo dos transtornos alimentares, da insegurança e da baixa autoestima, tornando-as vítimas dos mais variados preconceitos (que constituem, a propósito, os reflexos mais torpes da ignorância humana desmedida).
      Outro fator relevante ao presente contexto, que determina inclusive o tratamento que se confere ao outro, é o número de dígitos de sua conta bancária. O dinheiro tornou-se uma força suprema que abre inúmeras portas e rege as mais variadas relações, desde as interpessoais às internacionais. Às vezes me parece que o mundo está girando ao contrário há algum tempo  e que ninguém se deu conta disso. Valores invertidos, princípios deturpados, ideais perdidos, liberdades inalcançáveis, dias melhores que nunca chegam.
      Não é necessário abdicar da tecnologia, do dinheiro, da beleza, dos bens materiais; entretanto, é importante que cada indivíduo busque um aprimoramento pautando-se pela sua própria consciência e por suas reais necessidades, colocando as expectativas e opiniões de outrem em segundo plano. Reprima-se menos, cobre-se apenas o necessário; permita-se mais, viva intensamente, por você e para você. Isso nos proporciona a tão almejada liberdade, em sua forma mais autêntica. E tenha sempre em mente que as coisas mais simples, aquelas que geralmente nos passam despercebidas, podem ser verdadeiras fontes de felicidade gratuita. Sim, falo por experiência própria, e espero que não se dê conta disso tarde demais.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Essa Droga de Amor!



"Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente
."                        
  
 
                                   - Wladimir Maiakóvski


     Eu não consigo mais lidar com esta abstinência. Fico irrequieto, ansioso, ofegante. Durmo mal e se não abominasse o hábito de roer unhas, não mais as teria. Cogito embriagar-me, mas reúno os resquícios de sensatez que ainda tenho em mim e evito. O álcool é extremamente volátil, bem como a sensação de satisfação e euforia que ele proporciona - é temporária e cessa deveras rápido, diga-se de passagem. É inevitável: já experimentei suas carícias e percebi que nada pode substituir os efeitos que elas têm sobre o meu corpo. Estou dependente, viciado em você.
     Se cheguei ao fundo deste poço ainda não sei, mas basta a sua presença para me afastar de qualquer receio. Quando você vem, traz consigo a luz, meu mundo volta a ter cor. Experimento novamente seus efeitos, aventurando-me em doses cada vez maiores. Fico com o riso fácil, ensaio gestos patéticos, arrepio-me da cabeça aos pés, transpiro; transcendo o volume que meu corpo ocupa no espaço, por pouco não tenho alucinações e em certos momentos sinto-me levitar. Nossos corpos, agora unidos sobre a cama, confundem-se por completo, trocam energias, dançam em ritmo cada vez mais acelerado.
     Preciso de doses frequentes de você. Sendo a minha morte um futuro certo, que ela ocorra após uma overdose de momentos como este, não por conta de abstinências. Morrerei feliz, sem dúvidas. E não creio que isso tudo se relacione à morte; está mais para "viver", no sentido pleno da palavra. A cada dia sinto-me mais e mais revigorado.
     Não se preocupem, caros leitores, não estou me drogando; estou amando, apenas.