“Amar é mudar a alma de casa.”
- Mario Quintana
Amar: verbo complexo, não é? Qual é a fórmula do amor, você
sabe? O que define com precisão o momento em que uma pessoa está amando a
outra? Como diferenciar o amor da paixão? Existem formas distintas de amar?
Muitas perguntas, nenhuma resposta concludente. Os
diferentes dicionários definem o amor de forma linear: todos os significados
apresentados apontam para uma forte afeição por outra pessoa, originada através
de laços de sangue ou de interações sociais. Mencionam, ainda, uma atração
baseada no desejo sexual. Sou contra a alcunha de “pai dos burros” que é dada
aos queridos dicionários, porque, embora sintéticos, esses velhos livrinhos já
me salvaram de muitos apuros! Todavia, convenhamos: os significados
apresentados não bastam. A mim, pelo menos, não satisfazem. Considero tais
definições vazias, superficiais, pobres. Será que as pessoas que escreveram os
verbetes dos diferentes dicionários de que dispomos nunca vivenciaram um amor
verdadeiro?
Talvez seja privilégio de poucos, mesmo. Que coisa divina
esse sentir! O amor, meus caros, é um sentimento
tão puro e forte que reconhece o momento de recuar, de dar um tempo para que as
coisas se ajeitem da melhor forma possível. Sem segundas intenções, ele não é
compatível com o desejo de posse, tampouco com conformismo ou comodidade. A
ideia é a contrária: sair da zona de conforto, num desafio constante de
conviver bem e levar felicidade diária ao seu par, ainda que distantes. Aos
afortunados que se regozijam do amor verdadeiro basta a alegria do outro,
independente de onde e com quem ele esteja. Quem ama de verdade não titubeia
quando chega a hora de abrir mão de certos privilégios para que todo mundo
consiga trilhar seus próprios caminhos e fique feliz, ainda que às custas de
sofrimentos preliminares. Sofre, mas não se impõe. Somos todos humanos, temos
os nossos limites pessoais. O amor verdadeiro reconhece e respeita todos eles e é mesmo eterno, ainda que a relação não dure para sempre.
Amar, penso eu, não é estar
sempre junto. Isso é status, ou dependência. Trata-se da verdadeira libertação, e não da escravização de qualquer dos envolvidos. Ama-se para se sentir
transbordante, não para se sentir completo. Cada um deve ser completo por si só
e, nessa sua completude, somar à atraente completude do outro; permitir que ele
esteja sempre radiante, mais do que satisfeito. O amor é o polimento da alma,
da bondade humana. É vida em seu estado mais lapidado. “Penso; logo, existo”. Amo; logo, vivo. Todos nós deveríamos viver plenamente, e não apenas ter uma
existência efêmera e vazia. O amor traz essa profundidade ao nosso
espírito. Aprendi isso na prática, vivenciando um
sentimento verdadeiro e inédito.
Numa relação a dois, em algum momento uma
ruptura pode se fazer necessária; não por falta de amor, mas porque as
circunstâncias não são favoráveis. Chamem de Deus, de Destino, de sacanagem da
vida ou como quiserem. O fato é: as relações se modificam, mas o sentimento
permanece. Basta ter maturidade para encarar. "Aceita que dói menos"!
Sentimento é como energia: se transforma, jamais se perde. O amor não morre. O
meu não vai morrer, mesmo que a relação se modifique agora. Isso é amar, na
minha modesta concepção. É bem querer a outrem acima de tudo, quando se dispõe
a fazer concessões e sacrifícios para assegurar o bem estar da pessoa amada.
Passa-se por cima de preconceitos, lemas, bordões, fórmulas, senso comum,
conselhos, regras. Cai tudo por terra, numa dinâmica maravilhosa de construção,
não de destruição!
Por todos vocês que repetem que
se bastam, que estão fugindo do amor, como eu mesmo tentava me convencer,
lamento. Isso é mentir para si mesmo. Torço, do fundo do meu coração, para que
em algum momento de suas vidas vocês também consigam vivenciar desse imenso
prazer. Nada pode ser mais feliz do que aquilo em que haja amor sincero.