terça-feira, 5 de março de 2013

Adoçando a Vida




"As pessoas não se precisam, elas se completam… não por serem metades,
mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo (...) Você aprende a gostar de você, a cuidar de você,
e principalmente a gostar de quem gosta de você."
                                                                                    -Mário Quintana




      Gostar de alguém não significa aceitar tudo em nome de um sentimento, fazer vista grossa para o que o outro faz de errado. Isso é ser fraco, conivente e até mesmo cúmplice; é permitir que o erro se torne algo aceitável e contribuir para a formação de indivíduos inescrupulosos que mais cedo ou mais tarde serão punidos. E é menos doloroso ser repreendido por alguém bem intencionado do que ser punido pela mão pesada da vida, sempre implacável ao aplicar seus castigos. O ideal é apontar o erro em particular, com calma e boa vontade, e incentivar aquele que errou a assumir as consequências do seu ato falho.
      O verbo “gostar” pode ser semanticamente muito mais rico, ir muito além. Implica em saber a hora correta de dizer um sonoro NÃO. Também significa impor limites e dar broncas quando se fizer necessário. Gostar de si próprio e ter princípios invioláveis são requisitos básicos para que se goste de alguém de maneira saudável.
      Gostar (mas gostar pra valer, de maneira autêntica e até mesmo inconsequente) sobretudo, é querer estar junto, mesmo e principalmente naquelas situações mais tensas e incômodas, procurando soluções conjuntas para as adversidades que se apresentam ao longo da jornada em comum. E ressalto que não há obstáculo invencível para aqueles que se gostam de verdade.
      Gostar é estender a mão a quem está prestes a despencar de um abismo, mesmo sabendo que essa pessoa pode te puxar involuntariamente para a queda fatal; quando se gosta pra valer, o receio de cair se torna insignificante se comparado ao desejo instintivo de salvar o ente querido, de garantir o seu bem-estar. E sob o ponto de vista de quem está pendurado, o simples fato de gostar poderia levá-lo a soltar a mão que o puxa, aceitando a própria morte e evitando arriscar a vida do outro.  
     Gostar, além de tudo, é almejar a felicidade alheia com a mesma intensidade que se almeja ser feliz, ainda que mediante a separação dos corpos e os rumos consequentemente distintos de um e de outro. Não existe meio-termo: quem gosta demonstra, não tem vergonha, engole o próprio orgulho, cuida e vai à luta em nome do seu sentimento, com unhas e dentes.
      Gostar é deixar de comer para garantir o sustento do outro; é ceder seu casaco em um dia frio a quem for objeto dos seus sentimentos e conter a vontade de tremer, dizendo que está tudo bem.
Mas já basta. Tudo o que foi exposto é pouco. Gostar é, por fim e seguramente, um dos privilégios que nos permitem por vezes a sensação de transcender esta existência mundana, e desejo a todos os atenciosos leitores a oportunidade ímpar de se deleitar com ele.

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