domingo, 13 de janeiro de 2013

Porque Todas as Pessoas Têm Seus Espinhos

   


"A humanidade não se divide em heróis e tiranos. As suas paixões, boas e más, foram-lhe dadas pela sociedade, não pela natureza."
                 - Charles Chaplin

 




  Os vilões são, muitas vezes, os personagens mais interessantes, complexos e palpáveis de um enredo. Podem ser compreensíveis, inclusive, porque alguns de seus delírios e fraquezas costumam refletir, com grande clareza, a realidade humana. Além de se sobressaírem por características mais superficiais (como o fato de geralmente se vestirem e se portarem com mais elegância e até de serem mais atraentes), tendem a ser extremamente inteligentes e determinados, ainda que utilizem tais características com fins reprováveis.       
     Muitos dos grandes vilões não são maus por natureza, mas possuem um lado obscuro que se consolida após inúmeras provações e adversidades. Outro aspecto relevante a ser destacado é que hoje em dia o papel do mocinho clássico se tornou muito abstrato, por vezes inaplicável ao nosso contexto. As pessoas do mundo real cometem loucuras, erram e machucam as outras, mesmo que sem querer. E não me refiro especificamente aos psicopatas, invejosos ou mentirosos, mas ao ser humano de modo geral. Até porque talvez todo mundo tenha em si, ainda que em pequena medida, um pouco de psicopata, de invejoso, de mentiroso...
     Jean Jacques Rousseau defendia que o homem nasce bom, e a sociedade o corrompe. Concordo parcialmente com isto e acredito que esta idéia pode se aplicar de modo análogo ao que estou sugerindo. O que me parece é que a vida “vilaniza” a gente, aos poucos. Nossa personalidade se molda tendo por base nossas experiências de vida.
Não estou afirmando que todos nos tornamos maus, calculistas, mas mais cedo ou mais tarde todo mundo acaba fazendo alguma coisa questionável aos olhos de outrem, não necessariamente por ódio ou por pura maldade, mas pra se manter, se garantir – até as almas mais puras estarão sujeitas a isso. Manter-se íntegro requer um pouco de sangue frio.
     Nesse sentido, temos dentro de nós um pouco de herói, mas também um pouco de vilão, e este geralmente possui uma profundidade psicológica muito maior. Sob essa ótica, ele se torna mais palpável, "de carne e osso". Não é nada absurdo se identificar e até mesmo se compadecer com a história de algumas dessas figuras.
     Devaneios à parte, lamento informar, mas pessoas do tipo que oferecem a outra face quando levam um tapa e que ficam de braços cruzados ao serem prejudicadas não existem na nossa realidade. Francamente, somos bem mais complexos do que isso.

3 comentários:

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  2. Nossas experiências de vida, não nos torna nescessariamente em vilões...acredito que quem molda nossa personalidade somos nós mesmos pela forma que reagimos diante de um "ataque de um vilão" . Acho que todos nós ja sofremos algum tipo de dor e de dissabor nessa vida, porém nem sempre isso foi o suficiente para perder o "modelo mocinho". Claro temos que nos defender, mas parece que o inconsciênte coletivo hoje tende muito a se espelhar na forma "vilão de ser" ......o medo enraisado em cada pessoa de sofrer seja em que nivél for, acaba por transforma-las em vilões, diante dos outros, porém...minha pergunta única é: onde se encaixam os "mocinhos" em um mundo que se tornou dominado pela forma "vilão" de ser!!. Talvez realmente o tempo de mocinhos tenham acabado, mas vejo que quando haviam mais mocinhos que vilões, não havia tanta solidão e nem tanto egoísmo; numa sociedade que vemos se desmanchando de valores e de referêcias!!

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    1. Concordo com você, foi exatamente o que quis sugerir. Ao dizer que as pessoas podem se "vilanizar" com o tempo, quis apenas utilizar uma metáfora (a figura dos vilões) para expressar uma divagação, não para afirmar de forma plenamente convicta que isso é uma regra absoluta. Minha intenção não foi pregar que todo mundo se torna mau e frio com o tempo, até porque não acredito nisso. Foi uma comparação intencional e ligeiramente hiperbólica, exagerada, apenas para sugerir uma reflexão. Como se depreende do título do blog, trata-se de mero devaneio, nada que se comprove na totalidade dos casos. Também não quis dizer que as pessoas se dividem em "heróis" e "vilões". Temos momentos de um e de outro. Reforço a ideia de que não cabe a ninguém julgar as atitudes do outro. Todo mundo acaba apontando o dedo e tirando suas próprias conclusões diante das atitudes alheias, mas é importante ter em mente que aquela pessoa encontrou algo que a motivou a agir de determinada forma, e fez o que considerava melhor.
      Obrigado pela intervenção oportuna!

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